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Você Acha Que Fala Inglês Até Ouvir A Adele Falando

Sep 4

5 min de leitura

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Você sabe como é. Você está rolando pelas redes sociais, se sentindo bem consigo mesma, quando de repente se depara com um vídeo da Adele dando uma entrevista. Ela está rindo, contando piadas, e você... perdida. Totalmente, completamente perdida. Parece que a língua inglesa simplesmente evaporou do seu cérebro, e você fica olhando para a tela se perguntando se talvez você nunca tenha realmente entendido inglês.

E então você vê a legenda: "Você acha que fala inglês até ouvir a Adele falando."

Ouch! É engraçado porque é verdade, né? Mas vamos nos aprofundar um pouco mais, porque há muito mais aqui do que apenas vogais no estilo Cockney e consoantes eliminadas. Não se trata só de língua; trata-se de classes sociais, representação e de como a mídia molda a maneira que pensamos que "deveríamos" falar inglês. Vamos lá!



O Efeito Adele

A questão é a seguinte: o sotaque da Adele é um sotaque de Londres da classe trabalhadora, muitas vezes chamado de Cockney ou Estuary English – sotaques cheios de particularidades. Oclusivas glotais, gírias que parecem não pertencer a um livro didático de inglês, e um ritmo que é menos “inglês da rainha” e mais “música de pub.” Não é apenas o que ela diz – é como ela diz. A voz da Adele é como música, mas não daquele tipo que foi afinado no autotune para tocar nas rádios internacionais.

Para quem não cresceu ouvindo esses sons (ou seja, todo mundo que não aprendeu inglês assistindo EastEnders em loop), pode parecer que ela está falando uma língua completamente diferente. E é essa a piada, né? Você acha que sabe inglês, mas no minuto que a Adele começa a falar, você começa a questionar tudo. É como se estivesse jogando Mad Gab, mas ninguém vai te dizer qual é a resposta.

Mas por que? Por que achamos isso tão estranho? Permita-me vos apresentar nosso velho amigo, o Received Pronunciation (RP).


RP, O Queridinho da Mídia (E o Vilão Desta História)

Por anos, o RP dominou a mídia britânica. É aquele sotaque "limpo e claro," de classe média alta, que te faz pensar na BBC, peças de Shakespeare, e chá servido em uma xícara tão pequena que você questiona se realmente vale a pena todo o trabalho. Esse é o sotaque do prestígio. O sotaque da autoridade. O sotaque que todo aluno de inglês como segunda língua teve gravado no cérebro por tutoriais do YouTube e aplicativos de aprendizado. É o sotaque britânico que foi exportado globalmente como “a maneira correta de falar inglês.”

E adivinha? O sotaque da Adele não é nada disso. Nem de perto.

O sotaque da Adele, com todos os seus ain’ts e gonnas e vogais que parecem deslizar umas nas outras como um riff de jazz, é um contraponto direto a tudo que fomos ensinados a esperar do inglês britânico na mídia. E é por isso que, para muitos de nós, parece difícil de entender. Porque fomos treinados para pensar que o RP é o padrão, e qualquer coisa que não soe como isso? Bom, deve estar errado.

Mas está mesmo? Ou será que simplesmente não estamos ouvindo as vozes certas?


A Verdadeira Piada: Por Que Sotaques Como o de Adele São a Exceção

A razão pela qual as piadas sobre o sotaque da Adele funcionam tão bem é porque a voz dela ainda é uma exceção na mídia. Sotaques de classe trabalhadora, como o Cockney, historicamente foram sub-representados ou marginalizados na mídia britânica. Por décadas, se você quisesse soar como alguém que “sabe do que está falando” na TV, no rádio ou nos filmes, você adotava um sotaque RP. Isso criou uma divisão – uma em que sotaques de classe trabalhadora eram ou motivo de piada ou completamente ausentes de espaços sérios.

Mas e a Adele? Ela é genuinamente quem ela é. Não suavizou seu sotaque quando alcançou a fama. Não o “corrigiu.” Em vez disso, ela o levou para cada entrevista, cada premiação, cada coletiva de imprensa. E é aí que a piada toma forma. Porque todos nós fomos condicionados pela mídia a pensar que o inglês soa como o RP, e quando não soa? Ficamos desorientados.

O problema não é o sotaque da Adele. O problema é que não fomos expostos a ingleses diferentes o suficiente.

Mas vamos deixar claro: não é responsabilidade da Adele mudar a percepção do mundo sobre o seu sotaque. Se ela algum dia decidisse adaptar seu sotaque na TV para ser mais aceita, fazendo o que chamamos de code-switching, isso não seria errado. Da mesma forma, falantes de inglês como segunda língua que trabalham a redução de sotaque (ou, como prefiro, aquisição de sotaque) não deveriam ser culpados por isso. Todos navegamos em um mundo onde certas variações linguísticas têm mais poder do que outras, e ninguém deveria ser forçado a estar na linha de frente dessa luta.


O Que Tudo Isso Significa? (E Como Parar de Me Sentir Burra Quando Adele Fala?)

Bem, para começar, talvez devêssemos parar de assumir que o RP é o único “inglês real.” O sotaque da Adele, como tantos outros, representa uma forma vibrante e dinâmica de inglês que é tão válida – se não mais interessante – quanto a versão de classe alta à qual estamos tão acostumados. Não é culpa da Adele que a mídia nos condicionou a esperar que todos os britânicos soassem como se tivessem acabado de sair do Palácio de Buckingham.

E talvez, só talvez, seja hora de mais diversidade na maneira como o inglês é representado nas telas e em nossas redes sociais. Mais sotaques, mais dialetos, mais vozes que reflitam a rica e complexa realidade de como o inglês é falado ao redor do mundo. Afinal, a língua não se trata apenas de palavras – trata-se de identidade, cultura e classe. E há muito poder na maneira como falamos.

Então, da próxima vez que você ouvir a Adele falando e sentir aquele tique de confusão, talvez não entre em pânico. Entre no ritmo. Ouça a musicalidade, a leveza, a profundidade da voz dela. Porque isso também é inglês. Mesmo que não soe como nos livros didáticos.


“Você Acha Que Fala Inglês Até…”

As redes sociais adoram fazer piada com o sotaque da Adele porque ele nos pega de surpresa. Mas talvez isso diga mais sobre nós do que sobre ela. O domínio do RP na mídia fez com que sotaques como o Cockney parecessem difíceis para os falantes de inglês como segunda língua, e até para falantes nativos de inglês, que são mais suscetíveis ao julgamento da mídia mainstream sobre o que é “correto." Quando tudo o que você ouve são sotaques “polidos” que representam uma fatia limitada da sociedade, torna-se mais fácil ver sotaques como o da Adele como menos refinados, menos educados – quando, na verdade, eles são apenas menos representados.

Mas podemos mudar isso. Se você quer se libertar dessas noções preconcebidas, tente se expor a uma variedade maior de sotaques no seu dia a dia. Assista a filmes, séries ou entrevistas com falantes de diferentes sotaques de inglês, incluindo sotaques nativos e não nativos, como variações do sotaque australiano, do sotaque indiano, do sotaque espanhol, e até do seu próprio. Cada um traz seu sabor único ao idioma, refletindo a diversidade de falantes de inglês ao redor do mundo. Siga criadores, ouça podcasts, e abrace como esses sotaques moldam o inglês de maneiras que os livros didáticos e Hollywood não conseguem capturar. Você vai se surpreender com a rapidez com que eles deixam de parecer difíceis e começam a soar como o inglês que você conhece, só que mais rico.

Então, vamos dar risada da piada, mas também questionar por que fomos ensinados a rir dela em primeiro lugar. Porque se há uma coisa que a Adele provou, é que sua voz – sotaque e tudo – vale a pena ser ouvida. Mesmo que você não entenda cada palavra de imediato. Mesmo que isso te faça pensar que você não entende inglês, até que... você entenda.

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